Na minha cidade tem um orquidário. Visitando o lugar pela primeira vez achei tudo meio estranho: uma floricultura sem cheiro de terra, a atendente tinha unhas imaculadas e não havia minhocas. As plantas tinham laços de fita prendendo o caule em hastes e as flores pareciam passarinhos orientais.
Tinha planos de não voltar mais, pois não havia me agradado ver flores em vestidos caros.
Foi aí que, na saída, vi um vaso nu, com uma planta sem adorno cujo caule era preso a haste não com cetim, mas com arame de prender saco de pão integral, a qual me custou as poucas moedas do passe de ônibus. Tive de voltar pra casa a pé na companhia de um vasinho pobre.
Não sei por que comprei a tal planta, choveu enquanto eu voltava e depois eu descobri que as orquídeas florescem mais ou menos uma vez por ano, são cheias de não me toques e depois que crescem pra valer, devem ser amarradas à sombra de uma árvore. Mesmo assim, arranjei uma fita para ela, joguei um pouco de terra fresca e lhe ofereci um pouco d’água.
A fita já ia perdendo a cor e as borboletas ainda não lhe haviam feito festa. As margaridas já estavam na terceira fornada e minha orquídea se mostrava um grande golpe do orquidário.
Foi no inverno, quando um botãozinho surgiu perto da fita desbotada. Corri para fazer um novo laço. Era tudo o que ela precisava.
Fui correndo contar aos meus amigos…
Tenho amigos que cabem em minhas mãos. Eles não ocupam sequer metade dos meus dedos, aliás, ocupam tão poucos dedos que os levo, na maioria das vezes, no coração ou nas lembranças. Talvez por isto os visite tão pouco, porque dou mais atenção ao monte de coisas que levo nas mãos.
Mas isto não impede nossa amizade de ser amizade. Isto, contudo, faz com que esta amizade seja de uma espécie rara, que floresce, sei lá, uma vez por ano.
Houve um tempo em que me encontrava com meus amigos em datas de aniversário, no carnaval ou em dias de julho. Houve um tempo em que escrevíamos uns para os outros contando aventuras toda semana, quase transformando nossas orquídeas em vulgares margaridas.
Houve um tempo em que quase um ano se passou e tivemos que abraçar juntos o caule mirrado de nossa amizade e rezar baixinho para que ele não tombasse. E ficamos tão assustados nesse dia, que quase desejamos ser margaridas e perder o encanto das orquídeas, só para que o caule não tombasse.
Felizmente, me lembrei que tudo o que precisávamos era de um novo laço.

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